sexta-feira, 10 de julho de 2015

Keep calm...


Pois é! Vai chegando a hora de ir embora... O Canadá cada vez mais perto, enquanto que o Brasil, mesmo nós ainda estando aqui, vai ficando cada vez mais distante. Bom? Ruim? Muito relativo. Tudo depende do ponto de vista, afinal toda grande escolha traz bônus e ônus.

Eu e a Natalie estamos muito felizes e ansiosos por finalmente partir. Falta muito pouco (duas semanas). Tudo aqui no Brasil parece não fazer muito sentido e vontade de virar a página para começar a vida nova é enorme... A maioria das pessoas que nos acompanham aqui no blog ou que estejam aqui visitando pela primeira vez sabe (ou pelo menos tem uma ideia) das inúmeras vantagens de morar num país como Canadá... Mas o que é difícil saber (e talvez você só saiba na hora de partir) é o tamanho do ônus em sair do seu país para recomeçar a vida em outro.

Eu li um artigo no site Elite Daily, escrito por uma jornalista chamada Manon de Heus (link do artigo: http://elitedaily.com/life/culture/what-to-know-moving-abroad/1075004/) e me identifiquei muito com três dos cinco tópicos desse artigo. Não sei se ela escreveu de uma maneira diferente de outros artigos/posts que já tinha lido anteriormente ou se o momento de nostalgia antecipada contribuiu, mas o fato é que achei muito interessante e queria dividir aqui com vocês. O artigo original estava em inglês, então a tradução está por minha conta (com uma boa ajuda do Google Translator):

Durante os últimos 10 anos, eu vivi em cinco países diferentes. Tem sido uma jornada incrível que me ensinou mais sobre a vida, amor e medo do que qualquer livro de ensino ou de autoajuda jamais poderia. Construir uma nova existência longe de tudo que você sabe e acredita é o sentimento mais poderoso do mundo. Pessoas que se mudaram para outro país vão balançar a cabeça em concordância. Elas vão te dizer que viajar tem ampliado seus horizontes, tornou suas mentes mais abertas e mostrou-lhes o que realmente importa na vida.


O que elas não vão dizer é que é também a coisa mais solitária, mais alienante e mais cheia de culpa coisa que já fizeram. Lá fora, contos de fadas não existem. Aqui estão cinco coisas que estão prestes a acontecer se você decidir deixar a sua casa para trás:

1. Seus entes queridos ficarão devastados.

Não importa o quanto você tente adoçar (amenizar/esconder), mudar para o exterior é essencialmente uma escolha egoísta. É ótimo o fato de você estar vivendo o seu sonho e escolhendo a vida que (você acha que) você quer, mas realmente, você não está fazendo ninguém feliz além de você mesmo.

Se você é abençoado com uma família e amigos incríveis, eles farão de tudo para esconder seus verdadeiros sentimentos de você. Eles não querem sobrecarregá-lo com as suas dúvidas, medos e com seus pensamentos ("que diabos você está fazendo?!"). Eles vão dizer: "Se você está feliz, estamos felizes, também!”.

Meus pais fizeram um trabalho impressionante. No momento que eu parti para Los Angeles, eu estava convencida de que a minha “aventura” seria tão excitante para eles como era para mim. Eu estava tão ocupada comigo, e só comigo, que eu era completamente e totalmente alheia à dor deles. Naquele dia, no aeroporto, eu vi uma tristeza nos olhos de meus pais que eu nunca tinha visto antes.

Após as nossas despedidas finais, quando eu me virei mais uma vez, eles parecia frágeis, perdidos e 10 anos mais velhos. A minha aventura foi a miséria/angústia deles.

2. Você vai se sentir culpado o tempo todo.

Dois meses depois que me mudei para Los Angeles, uma grande amiga minha recebeu um diagnóstico de câncer devastador. Eu tentei me fazer presente através do telefone e via e-mail, mas eu sabia que tudo o que ela realmente precisava era um grande abraço e meu ombro para chorar. Quando minha avó de 80 anos caiu da escada e me ligou do hospital, triste e solitária, ela disse: "Quando você vem para visitar, querida?".

Eu não estava lá para ver os pontos baixos, e eu não estava lá para os pontos altos. Ao longo dos últimos anos, eu perdi a maioria das despedidas de solteira, aniversários, chás de bebê e casamentos dos meus amigos. Eu sempre achei que o fate de não ir para tais eventos não seria um grande problema, até que conheci o curto, mas tão doloroso silêncio que acompanhava minha fala “Eu sinto muito, mas eu não poderei ir dessa vez”.

Quando você passar para o outro lado do globo, o tempo e as restrições financeiras, inevitavelmente passam a determinar as escolhas sociais que você faz. Ir ao casamento de um amigo pode impedi-lo de ir ao aniversário de 60 anos do seu pai ou à formatura de sua irmã. Como escolher? Como você justifica as escolhas que você faz?

Mesmo que eu saiba que a vida é minha e que eu decido como eu devo viver, a minha mudança para outro país me fez sentir uma péssima filha, neta e amiga muitas vezes.

3. Você vai se sentir muito, muito solitário.

Eu sempre tive a sorte de estar cercada por muitas pessoas maravilhosas. Ao me mudar para outro país, eu nunca tive problemas em conhecer novas pessoas para sair e explorar a minha nova cidade comigo. No entanto, apesar de eu nunca estar realmente sozinha, eu experimentei um profundo sentimento de solidão que eu nunca tinha conhecido antes.

Eu nunca vou esquecer o meu primeiro Natal americano, celebrado com uma colega de quarto que eu tinha conhecido três semanas antes e sua família. Fiquei impressionada com a bondade deles, mas eu sabia que tinha sido convidada principalmente por piedade. Olhar para eles e para o amor que eles compartilhavam me fez sentir como uma intrusa, como alguém que não pertencia àquele lugar.

Leva tempo para construir relacionamentos significativos, portanto, ao se mudar para outro país, você inevitavelmente vai gastar um monte de tempo com pessoas que são divertidas e emocionantes, mas com quem você ainda não compartilha quaisquer memórias ou histórias. É como estar de volta na faculdade de novo, mas desta vez, você está por sua conta em um país distante, longe de seus entes queridos.

4. Você não vai mais se enquadrar.

Mudar para outro país me mudou em tantas mais maneiras que eu sequer imaginava. Eu descobri amores, paixões e medos que eu nunca soube que eu tinha, e abandonei convicções antigas e crenças que apenas pareciam não fazer mais sentido. Foi uma boa oportunidade que eu abracei totalmente, mas isso também tem – apesar de lenta e sutilmente – me alienado das pessoas e do lugar que eu costumava chamar de lar.

Quando você se muda, a maior e mais importante parte da sua vida passa a se desenvolver em outro lugar. Desta forma, a plena identificação com a sua vida da maneira que ela costumava ser torna-se quase impossível. Em vez disso, você encontra uma nova casa em seu novo país que preenche parcialmente o vazio. No entanto, considerando que você não têm raízes e história em seu novo lar, você nunca, não importa o seu esforço, irá se ajustar completamente.

É por isso que quase todos os “globe-trotters” que eu conheci ao longo dos anos se deparam com questões existenciais, como, “eu pertenço a que lugar?”, “onde está meu verdadeiro lar?” ou  “onde eu gostaria de envelhecer?”. Incapazes de responder a essas perguntas, eles muitas vezes se mudam novamente – e de novo, e de novo, e de novo. Eles estão procurando por aquela sensação de lar que, um dia, estiveram tão ansiosos em deixar para trás.

5. Você vai perder queridos amigos.

Amigos que você nunca pensou que iria perder, porque vocês se conheceram no jardim de infância, durante a faculdade ou viajaram juntos através da Europa, em breve vão se distanciar. Por todas as razões acima mencionadas, a ida para outro país irá mudar e sacrificar boas amizades. Claro que algumas resistirão, mas no geral, a maioria não. Não é culpa de ninguém ao mesmo tempo em que a culpa é de todos.

Você vai esquecer a data de seus aniversários, porque você estará muito ocupado saindo com seus novos amigos. Eles culpam você por participar do aniversário de 60 anos do seu pai, em vez de ir a suas despedidas de solteira. Você poderia tentar visitá-los mais. Mas, eles poderiam devolver o favor, e, de vez em quando, ir visitar você também.

Escolher caminhos diferentes termina amizades, assim como ele termina a maioria dos relacionamentos. É inevitável e é vida, mas isso não significa que seja fácil. Ao perder amigos, você perde uma parte de si mesmo e da sua história.

Então, tem valido a pena? Eu me arrependo de escolher um estilo de vida internacional? Sim e não, absolutamente. Com grande sacrifício, vem uma grande recompensa, portanto, fique atento aos meus próximos trabalhos, e sinta-se livre para me perguntar qualquer dúvida sobre mudança para o estrangeiro que você possa ter.


Desde que tomamos nossa decisão, eu subestimava um pouco o ônus da mudança. Agora, durante as últimas semanas já ando sentindo um “homesick” antecipado. Estou conseguindo ver com um pouco mais de clareza como a nossa decisão vai afetar não apenas a nossa vida, mas também a de nossos familiares. Eu não concordo com alguns pontos da jornalista, como quando ela diz que você irá se sentir muito solitário e que você simplesmente não irá mais se enquadrar... Quanto ao “solitário”, só o tempo irá dizer. Talvez se eu estivesse indo solteiro, isso pudesse pesar mais um pouco. Mas acredito que eu e a Natalie, contanto com o apoio e companheirismo um do outro, sem falar no encurtamento da distância que existe hoje com a internet, Skype, relativo acesso ao transporte aéreo, etc, podemos lidar com isso tranquilamente. Quanto ao não “não irá se enquadrar”, sei que ainda não estou vivendo a vida canadense, mas realmente não concordo. Afinal, eu tenho extrema dificuldade de me enquadrar aqui no Brasil... Fazer as coisas da maneira correta, respeitar o limite dos seus direitos e ter ambição de que o país (não só as instituições públicas e o governo, mas o próprio cidadão brasileiro – apesar de “cidadão” e “brasileiro” serem duas palavras tão antagônicas) funcione levam você a ser tachado de “mané”, “otário” e/ou “chato”. Eu não me enquadro no próprio país onde nasci... Bizarro isso!!! Sinceramente, acredito que um país onde exista um conceito de cidadania seja um lugar muito mais fácil para que possamos nos enquadrar.

A Manon também fala que você sentirá um constante sentimento de culpa e como seus amigos e parentes ficarão tristes com a sua partida... E foi principalmente aí que a ficha caiu! Eu realmente tinha a ideia que tudo era “festa” e de que todos estavam 100% felizes com a minha oportunidade de melhora de vida. Mas, por mais que todos (ou pelo menos, maioria) estejam realmente felizes, uma parte deles sempre ficará EXTREMAMENTE triste com a sua partida. Cara... Mesmo morando sozinho há mais de 10 anos, nunca fiquei um ano completo sem ver minha mãe, por exemplo. Mesmo em cidades distantes, era relativamente fácil pegar um avião e, em 2 ou 3 horas, nos encontrarmos. Quando será que poderei abraça-la novamente? Eu sei que podemos conversar todo dia via Skype, mas vamos combinar que não é a mesma coisa, certo? Nosso sobrinho tem 8 anos hoje. E o pior é que ele mora em outro Estado e só vem visitar a família nas férias escolares. Será que só conseguiremos vê-lo daqui há alguns anos, quando ele já tiver se tornado um adolescente?

Bom... Apesar de todo o ônus decorrente da nossa decisão, acreditamos que tudo valerá a pena pelas oportunidades que teremos e por tudo que poderemos proporcionar aos nossos futuros filhos em terras canadenses. Só queria dividir esse texto com vocês porque acho que ele me deixou um pouco mais preparado para enxergar e enfrentar essas dificuldades que teremos pela frente.

14 comentários:

  1. Olá, que bacana você ter compartilhado este texto. Também sinto a culpa, dividindo a cena com a euforia de estar prestes a mudar para o Canada. Infelizmente, também sinto o não-enquadramento no Brasil.
    Com a esperança de que os fatores positivos sejam maiores, boa viagem para nós!

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    1. Que assim seja... rs
      Boa sorte e boa viagem pra gente! Abs!

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  2. Haaa gente que ansiedade, torcendo para dar tudo certo.. Deus vai abençoar vocês. Gente qualquer coisa grita hemmm. Boa viagem.

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    1. Ingrid,

      Obrigado pelos votos... Precisando de alguma coisa também, pode contar com a gente.

      Abs!

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  3. Olá, parabéns pela iniciativa. Sei que está tudo em cima da hora, mas se possível, gostaria de ter um contato com vocês. Estou exatamente na mesma situação. Casado, com cachorros e indo para Winnipeg. Eu com SP e ela com OWP. Espero podermos conversar. Abraços.

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    1. Oi Danilo,

      Podemos conversar sim... É só combinar um horário. Conversamos como? Via Skype?
      Quando vocês vão?

      Abs!

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  4. Ótimo post. Eu pretendo ir no ano que vem e já estou pensando nesses pontos discutidos. Penso que a culpa de deixar minha família aqui será a maior. Não ter mais o convívio diário vai ser difícil. Mesmo com skype, wp e afins, não é a mesma coisa de sentar todo mundo junto à mesa para almoçar no domingo. E não adianta muito dizer que é em busca de um sonho, pq como a autora falou são motivações puramente egoístas. Eu estou fazendo por mim. Ponto. Mas será isso errado? Dificíl essa vida de imigrante, não?

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  5. Oi, casal :)
    Estamos meio sumidos... Nosso processo está parado, acreditam? :(
    E esse fato nos fez pensar bastante (mais do que nunca)_ nesse processo todo... Acho que agora damos mais valor à essa oportunidade, do que antes!
    Se nosso visto for aprovado, acho que tiraremos muito mais da experiencia, do que tiraríamos antes! :O
    é um sentimento estranho rs
    Mas nos faz pensar em muito do que o texto que vocês postaram diz. Acho que algumas vezes na vida temos que ser egoístas, para nosso bem... No fim, levaremos ao Canada o maior numero de parentes e amigos que pudermos! rs
    Boa sorte pra vocês :)
    bjs, Tata

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  6. Oi pessoal!
    Não deixem de atualizar o dia a dia de vocês. Estou com minha namorada no mesmo processo e esse blog tá sendo de grande ajuda. Um abraço!!

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    1. Weiner, obrigada pelo incentivo.

      Estamos numa correria muito grande desde que chegamos no Canada há duas semanas e não estamos tendo tempo de vir aqui com frequência. Em todo caso, vendo que as pessoas estão interessadas nas informaçoes que passamos, acabamos ficando com mais vontade de escrever.

      Em breve escreverei mais sobre como são as coisas uma vez que você chega no país, em questão de documentação, suporte ao imigrante e adaptação.

      Abs
      Nat

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  7. Olá. Parabéns pelo blog e experiência.

    Quando puderem, atualizem ;)
    Boa sorte!!

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  8. Gente me conta do cachorro, como foi a viagem?? Vou estudar o ano que vem aí em Winnipeg e vou levar o meu também e isso está me deixando aflita, sem saber como vão ser as coisas. Qualquer relato ajuda! Obrigada!

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    1. Ellen, vou escrever um post em breve sobre o assunto, mas fique tranquilo que deu tudo certo com a gente e vai dar também com você.

      Abs,
      Natalie

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