Pois é! Vai chegando a hora de ir embora... O Canadá cada
vez mais perto, enquanto que o Brasil, mesmo nós ainda estando aqui, vai
ficando cada vez mais distante. Bom? Ruim? Muito relativo. Tudo depende do
ponto de vista, afinal toda grande escolha traz bônus e ônus.
Eu e a Natalie estamos muito felizes e ansiosos por
finalmente partir. Falta muito pouco (duas semanas). Tudo aqui no Brasil parece
não fazer muito sentido e vontade de virar a página para começar a vida nova é enorme...
A maioria das pessoas que nos acompanham aqui no blog ou que estejam aqui visitando
pela primeira vez sabe (ou pelo menos tem uma ideia) das inúmeras vantagens de morar
num país como Canadá... Mas o que é difícil saber (e talvez você só saiba na
hora de partir) é o tamanho do ônus em sair do seu país para recomeçar a vida
em outro.
Eu li um artigo no site Elite Daily, escrito por uma jornalista
chamada Manon de Heus (link do artigo: http://elitedaily.com/life/culture/what-to-know-moving-abroad/1075004/)
e me identifiquei muito com três dos cinco tópicos desse artigo. Não sei se ela
escreveu de uma maneira diferente de outros artigos/posts que já tinha lido
anteriormente ou se o momento de nostalgia antecipada contribuiu, mas o fato é
que achei muito interessante e queria dividir aqui com vocês. O artigo original
estava em inglês, então a tradução está por minha conta (com uma boa ajuda do
Google Translator):
Durante os últimos 10 anos, eu
vivi em cinco países diferentes. Tem sido uma jornada incrível que me ensinou
mais sobre a vida, amor e medo do que qualquer livro de ensino ou de autoajuda jamais
poderia. Construir uma nova existência longe de tudo que você sabe e acredita é
o sentimento mais poderoso do mundo. Pessoas que se mudaram para outro país vão
balançar a cabeça em concordância. Elas vão te dizer que viajar tem ampliado
seus horizontes, tornou suas mentes mais abertas e mostrou-lhes o que realmente
importa na vida.
O que elas não vão dizer é que é
também a coisa mais solitária, mais alienante e mais cheia de culpa coisa que
já fizeram. Lá fora, contos de fadas não existem. Aqui estão cinco coisas que
estão prestes a acontecer se você decidir deixar a sua casa para trás:
1. Seus entes queridos ficarão
devastados.
Não importa o quanto você tente adoçar
(amenizar/esconder), mudar para o exterior é essencialmente uma escolha
egoísta. É ótimo o fato de você estar vivendo o seu sonho e escolhendo a vida que
(você acha que) você quer, mas realmente, você não está fazendo ninguém feliz
além de você mesmo.
Se você é abençoado com uma
família e amigos incríveis, eles farão de tudo para esconder seus verdadeiros
sentimentos de você. Eles não querem sobrecarregá-lo com as suas dúvidas, medos
e com seus pensamentos ("que diabos você está fazendo?!"). Eles vão
dizer: "Se você está feliz, estamos felizes, também!”.
Meus pais fizeram um trabalho
impressionante. No momento que eu parti para Los Angeles, eu estava convencida
de que a minha “aventura” seria tão excitante para eles como era para mim. Eu
estava tão ocupada comigo, e só comigo, que eu era completamente e totalmente
alheia à dor deles. Naquele dia, no aeroporto, eu vi uma tristeza nos olhos de
meus pais que eu nunca tinha visto antes.
Após as nossas despedidas finais,
quando eu me virei mais uma vez, eles parecia frágeis, perdidos e 10 anos mais
velhos. A minha aventura foi a miséria/angústia deles.
2. Você vai se sentir culpado o
tempo todo.
Dois meses depois que me mudei
para Los Angeles, uma grande amiga minha recebeu um diagnóstico de câncer
devastador. Eu tentei me fazer presente através do telefone e via e-mail, mas
eu sabia que tudo o que ela realmente precisava era um grande abraço e meu
ombro para chorar. Quando minha avó de 80 anos caiu da escada e me ligou do
hospital, triste e solitária, ela disse: "Quando você vem para visitar,
querida?".
Eu não estava lá para ver os
pontos baixos, e eu não estava lá para os pontos altos. Ao longo dos últimos
anos, eu perdi a maioria das despedidas de solteira, aniversários, chás de bebê
e casamentos dos meus amigos. Eu sempre achei que o fate de não ir para tais
eventos não seria um grande problema, até que conheci o curto, mas tão doloroso
silêncio que acompanhava minha fala “Eu sinto muito, mas eu não poderei ir
dessa vez”.
Quando você passar para o outro
lado do globo, o tempo e as restrições financeiras, inevitavelmente passam a determinar
as escolhas sociais que você faz. Ir ao casamento de um amigo pode impedi-lo de
ir ao aniversário de 60 anos do seu pai ou à formatura de sua irmã. Como escolher?
Como você justifica as escolhas que você faz?
Mesmo que eu saiba que a vida é
minha e que eu decido como eu devo viver, a minha mudança para outro país me fez
sentir uma péssima filha, neta e amiga muitas vezes.
3. Você vai se sentir muito,
muito solitário.
Eu sempre tive a sorte de estar
cercada por muitas pessoas maravilhosas. Ao me mudar para outro país, eu nunca
tive problemas em conhecer novas pessoas para sair e explorar a minha nova
cidade comigo. No entanto, apesar de eu nunca estar realmente sozinha, eu
experimentei um profundo sentimento de solidão que eu nunca tinha conhecido
antes.
Eu nunca vou esquecer o meu
primeiro Natal americano, celebrado com uma colega de quarto que eu tinha conhecido
três semanas antes e sua família. Fiquei impressionada com a bondade deles, mas
eu sabia que tinha sido convidada principalmente por piedade. Olhar para eles e
para o amor que eles compartilhavam me fez sentir como uma intrusa, como alguém
que não pertencia àquele lugar.
Leva tempo para construir
relacionamentos significativos, portanto, ao se mudar para outro país, você
inevitavelmente vai gastar um monte de tempo com pessoas que são divertidas e
emocionantes, mas com quem você ainda não compartilha quaisquer memórias ou histórias. É como estar de volta na faculdade de novo, mas desta vez, você está por sua
conta em um país distante, longe de seus entes queridos.
4. Você não vai mais se enquadrar.
Mudar para outro país me mudou em
tantas mais maneiras que eu sequer imaginava. Eu descobri amores, paixões e
medos que eu nunca soube que eu tinha, e abandonei convicções antigas e crenças
que apenas pareciam não fazer mais sentido. Foi uma boa oportunidade que eu abracei
totalmente, mas isso também tem – apesar de lenta e sutilmente – me alienado
das pessoas e do lugar que eu costumava chamar de lar.
Quando você se muda, a maior e
mais importante parte da sua vida passa a se desenvolver em outro lugar. Desta
forma, a plena identificação com a sua vida da maneira que ela costumava ser
torna-se quase impossível. Em vez disso, você encontra uma nova casa em seu
novo país que preenche parcialmente o vazio. No entanto, considerando que você
não têm raízes e história em seu novo lar, você nunca, não importa o seu esforço,
irá se ajustar completamente.
É por isso que quase todos os “globe-trotters”
que eu conheci ao longo dos anos se deparam com questões existenciais, como, “eu
pertenço a que lugar?”, “onde está meu verdadeiro lar?” ou “onde eu gostaria de envelhecer?”. Incapazes
de responder a essas perguntas, eles muitas vezes se mudam novamente – e de
novo, e de novo, e de novo. Eles estão procurando por aquela sensação de lar
que, um dia, estiveram tão ansiosos em deixar para trás.
5. Você vai perder queridos
amigos.
Amigos que você nunca pensou que
iria perder, porque vocês se conheceram no jardim de infância, durante a
faculdade ou viajaram juntos através da Europa, em breve vão se distanciar. Por
todas as razões acima mencionadas, a ida para outro país irá mudar e sacrificar
boas amizades. Claro que algumas resistirão, mas no geral, a maioria não. Não é
culpa de ninguém ao mesmo tempo em que a culpa é de todos.
Você vai esquecer a data de seus
aniversários, porque você estará muito ocupado saindo com seus novos amigos. Eles
culpam você por participar do aniversário de 60 anos do seu pai, em vez de ir a
suas despedidas de solteira. Você poderia tentar visitá-los mais. Mas, eles
poderiam devolver o favor, e, de vez em quando, ir visitar você também.
Escolher caminhos diferentes termina
amizades, assim como ele termina a maioria dos relacionamentos. É inevitável e
é vida, mas isso não significa que seja fácil. Ao perder amigos, você perde uma
parte de si mesmo e da sua história.
Então, tem valido a pena? Eu me
arrependo de escolher um estilo de vida internacional? Sim e não,
absolutamente. Com grande sacrifício, vem uma grande recompensa, portanto,
fique atento aos meus próximos trabalhos, e sinta-se livre para me perguntar
qualquer dúvida sobre mudança para o estrangeiro que você possa ter.
Desde que tomamos nossa decisão, eu subestimava um pouco o
ônus da mudança. Agora, durante as últimas semanas já ando sentindo um “homesick”
antecipado. Estou conseguindo ver com um pouco mais de clareza como a nossa decisão
vai afetar não apenas a nossa vida, mas também a de nossos familiares. Eu não
concordo com alguns pontos da jornalista, como quando ela diz que você irá se
sentir muito solitário e que você simplesmente não irá mais se enquadrar...
Quanto ao “solitário”, só o tempo irá dizer. Talvez se eu estivesse indo
solteiro, isso pudesse pesar mais um pouco. Mas acredito que eu e a Natalie, contanto
com o apoio e companheirismo um do outro, sem falar no encurtamento da
distância que existe hoje com a internet, Skype, relativo acesso ao transporte
aéreo, etc, podemos lidar com isso tranquilamente. Quanto ao não “não irá se
enquadrar”, sei que ainda não estou vivendo a vida canadense, mas realmente não
concordo. Afinal, eu tenho extrema dificuldade de me enquadrar aqui no
Brasil... Fazer as coisas da maneira correta, respeitar o limite dos seus
direitos e ter ambição de que o país (não só as instituições públicas e o
governo, mas o próprio cidadão brasileiro – apesar de “cidadão” e “brasileiro”
serem duas palavras tão antagônicas) funcione levam você a ser tachado de “mané”,
“otário” e/ou “chato”. Eu não me enquadro no próprio país onde nasci... Bizarro
isso!!! Sinceramente, acredito que um país onde exista um conceito de cidadania
seja um lugar muito mais fácil para que possamos nos enquadrar.
A Manon também fala que você sentirá um constante
sentimento de culpa e como seus amigos e parentes ficarão tristes com a sua
partida... E foi principalmente aí que a ficha caiu! Eu realmente tinha a ideia
que tudo era “festa” e de que todos estavam 100% felizes com a minha
oportunidade de melhora de vida. Mas, por mais que todos (ou pelo menos,
maioria) estejam realmente felizes, uma parte deles sempre ficará EXTREMAMENTE triste
com a sua partida. Cara... Mesmo morando sozinho há mais de 10 anos, nunca
fiquei um ano completo sem ver minha mãe, por exemplo. Mesmo em cidades
distantes, era relativamente fácil pegar um avião e, em 2 ou 3 horas, nos
encontrarmos. Quando será que poderei abraça-la novamente? Eu sei que podemos conversar
todo dia via Skype, mas vamos combinar que não é a mesma coisa, certo? Nosso
sobrinho tem 8 anos hoje. E o pior é que ele mora em outro Estado e só vem
visitar a família nas férias escolares. Será que só conseguiremos vê-lo daqui há alguns anos, quando
ele já tiver se tornado um adolescente?
Bom... Apesar de todo o ônus decorrente da nossa decisão,
acreditamos que tudo valerá a pena pelas oportunidades que teremos e por tudo
que poderemos proporcionar aos nossos futuros filhos em terras canadenses. Só
queria dividir esse texto com vocês porque acho que ele me deixou um pouco mais
preparado para enxergar e enfrentar essas dificuldades que teremos pela frente.
Olá, que bacana você ter compartilhado este texto. Também sinto a culpa, dividindo a cena com a euforia de estar prestes a mudar para o Canada. Infelizmente, também sinto o não-enquadramento no Brasil.
ResponderExcluirCom a esperança de que os fatores positivos sejam maiores, boa viagem para nós!
Que assim seja... rs
ExcluirBoa sorte e boa viagem pra gente! Abs!
Haaa gente que ansiedade, torcendo para dar tudo certo.. Deus vai abençoar vocês. Gente qualquer coisa grita hemmm. Boa viagem.
ResponderExcluirIngrid,
ExcluirObrigado pelos votos... Precisando de alguma coisa também, pode contar com a gente.
Abs!
Olá, parabéns pela iniciativa. Sei que está tudo em cima da hora, mas se possível, gostaria de ter um contato com vocês. Estou exatamente na mesma situação. Casado, com cachorros e indo para Winnipeg. Eu com SP e ela com OWP. Espero podermos conversar. Abraços.
ResponderExcluirOi Danilo,
ExcluirPodemos conversar sim... É só combinar um horário. Conversamos como? Via Skype?
Quando vocês vão?
Abs!
Ótimo post. Eu pretendo ir no ano que vem e já estou pensando nesses pontos discutidos. Penso que a culpa de deixar minha família aqui será a maior. Não ter mais o convívio diário vai ser difícil. Mesmo com skype, wp e afins, não é a mesma coisa de sentar todo mundo junto à mesa para almoçar no domingo. E não adianta muito dizer que é em busca de um sonho, pq como a autora falou são motivações puramente egoístas. Eu estou fazendo por mim. Ponto. Mas será isso errado? Dificíl essa vida de imigrante, não?
ResponderExcluirOi, casal :)
ResponderExcluirEstamos meio sumidos... Nosso processo está parado, acreditam? :(
E esse fato nos fez pensar bastante (mais do que nunca)_ nesse processo todo... Acho que agora damos mais valor à essa oportunidade, do que antes!
Se nosso visto for aprovado, acho que tiraremos muito mais da experiencia, do que tiraríamos antes! :O
é um sentimento estranho rs
Mas nos faz pensar em muito do que o texto que vocês postaram diz. Acho que algumas vezes na vida temos que ser egoístas, para nosso bem... No fim, levaremos ao Canada o maior numero de parentes e amigos que pudermos! rs
Boa sorte pra vocês :)
bjs, Tata
Oi pessoal!
ResponderExcluirNão deixem de atualizar o dia a dia de vocês. Estou com minha namorada no mesmo processo e esse blog tá sendo de grande ajuda. Um abraço!!
Weiner, obrigada pelo incentivo.
ExcluirEstamos numa correria muito grande desde que chegamos no Canada há duas semanas e não estamos tendo tempo de vir aqui com frequência. Em todo caso, vendo que as pessoas estão interessadas nas informaçoes que passamos, acabamos ficando com mais vontade de escrever.
Em breve escreverei mais sobre como são as coisas uma vez que você chega no país, em questão de documentação, suporte ao imigrante e adaptação.
Abs
Nat
Olá. Parabéns pelo blog e experiência.
ResponderExcluirQuando puderem, atualizem ;)
Boa sorte!!
Obrigada, Paloma. Iremos atualizar em breve.
ExcluirNatalie
Gente me conta do cachorro, como foi a viagem?? Vou estudar o ano que vem aí em Winnipeg e vou levar o meu também e isso está me deixando aflita, sem saber como vão ser as coisas. Qualquer relato ajuda! Obrigada!
ResponderExcluirEllen, vou escrever um post em breve sobre o assunto, mas fique tranquilo que deu tudo certo com a gente e vai dar também com você.
ExcluirAbs,
Natalie